terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cristhiano Aguiar algumas ideias sobre a Freeporto

Freeporto 2010 – A sexta

(Com Marcelino lendo Homo Erectus, conto a partir do qual escrevi o Fêmea Fóssil, que li em seguida, e que foi o 1º Prêmio Pierre Menard de Cover Literário - uma farra só. Abaixo, texto de Christiano Aguiar, na coluna Linguagem Guilhotina no blog NotaPe http://notape.com.br/cristhianoaguiar/?p=396#comments)

Quando cheguei na rua da Moeda, a programação da Freeporto já tinha começado lá no bar Burburinho. Mas não tem problema: como diz o ditado, se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé. A turma de poetas que tinha feito o recital no bar caminhava naquele momento pelas ruas do bairro. Assim que pisei na Moeda, eles chegaram: encontrá-los me animou bastante e me ajudou a entrar no clima da Freeporto. A poética, contudo, foi superada pela minha fome: antes de subir até a sede do Corpos Percussivos, local onde aconteceria parte da programação da noite, fui até o Paço Alfândega comer algo. Quando entro no Paço, me encontro com o Movimento Armorial.
No saguão do shopping, acontecia uma mostra em comemoração aos 40 anos do Armorial. Havia muita gente aglomerada para assistir ao concerto de um quarteto de cordas. Seria o Romançal? Não sei, porém estava presente o genial músico Antonio Madureira e foi um prazer ouvi-lo tocar com seus companheiros. Infelizmente, cheguei no final e só pude ouvir uma música e meia. Fiquei pensando que, nos anos 70, o Armorial tinha um pouco de Freeporto, no sentido de também ser um grupo de jovens artistas que buscava criar um espaço para dar mais visibilidade aos próprios trabalhos, através da movimentação cultural da cidade do Recife.
Voltei à rua. Em seguida, subi as escadas do Corpos Percussivos. No chão, as convidativas almofadas, o já consagrado Free-sofá e os painéis pintados por Raoni Assis. A composição do lugar, do evento como um todo, aliás, mistura um pouco de um clima meio rock and roll com uma profunda meticulosidade, no qual cada detalhe da produção está no seu devido lugar. O humor se fez presente: em qual outro evento haveria a “premiação” dos “vencedores” de um concurso chamado Pierre Menard, que premia o escritor menos original possível? O interesse que temos numa festa literária como essa surge daí, de se conseguir um equilíbrio entre o humor corrosivo e a interlocução entre autores e leitores.
A única coisa que eu criticaria é a própria retórica dos meninos do Urros, que às vezes são acometidos da síndrome do “nunca antes na história desse país”. Não é preciso justificar boas ideias com retórica contra um hipotético “classemedismo” ou contra “a mentira das festas literárias não serem festas”. Todo evento literário é festa sim, no sentido de ser ponto de encontro e troca de experiências. Claro, os escritores, editores, críticos e leitores não ficam pulando em suas mesas e cadeiras ao som de alguma música, mas é só lembrar que a própria etimologia da palavra “simpósio”, originada do grego, contém o sentido de comunhão, de festa, de beber junto. Trazer a questão de classe social para discutir os espaços nos quais a literatura circula é legítimo e necessário, mas creio que é preciso fazê-lo com mais reflexão. É bom lembrar que Recife tem uma tradição de ações culturais performativas/paródicas/transgressoras, paralela à outra mais conservadora e bolo-de-rolo, e a Freeporto nasce a partir da primeira vertente. Trazendo, claro, o seu próprio toque autoral.
Por isso gostei muito da mesa que aconteceu logo em seguida: uma conversa com Mario Prata e Marcelino Freire sobre Campos de Carvalho. Lembro do impacto de ter lido Campos pela primeira vez: o radical anti-humanismo de um livro como A lua vem da Ásia, por exemplo. Hoje releio Campos com menos prazer (creio que o melhor livro dele ainda é o seu último), porém acho bacana trazê-lo à tona aqui em Recife. Mas nem é o resgate deste escritor que me chama atenção, e sim que a mediação e as perguntas foram feitas por um leitor sem ligações com o jornalismo ou com a pesquisa universitária. E digo: essa mediação “amadora” foi excelente, pois em muitos eventos literários, a crítica é que se deixa de lado o texto literário nos debates. Aqui, pelo contrário, o leitor-mediador mostrava que tinha lido a obra de Campos e que possuía um interesse genuíno em conversar sobre o seu texto.
Terminadas as mesas, voltamos à rua para outro momento hilário, a posse dos senadores da Nova Bulgária, como ficou rebatizado o Recife Antigo. Havia um monte de gente bebendo na rua, bastante barulho e agitação. Fiquei me perguntando o que os desavisados estariam pensando, algo do tipo “mas que porra é essa?”. Essa súbita invasão nos planos pre-programados que criamos à nossa própria circulação nas cidades (exemplo: hoje encontrarei com Fulano, Sicrano, vamos ao bar Tal, beber cerveja e depois ir para casa) é uma das maiores virtudes das intervenções urbanas, reforçadas, nas últimas décadas, pelas mais diversas linguagens contemporâneas.
Pena que perdi o resto das performances e os shows, porque havia, ainda, outras noites dentro daquela. Terminei minha cerveja e peguei um táxi. Só voltaria a participar da Freeporto no domingo, em busca de algo raro: meus próprios leitores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Histórias Possíveis 60 - Aniversário (temática Kafka)

HP 60 – ANIVERSÁRIO

novembro 28, 2010 por historiaspossiveis






Um sonho de Kafka - Daniela Mendes
“Estendia na janela e, enquanto esperava sua resposta, dando sucessivas conferidas para rir do vento que fazia de Paloma uma desajeitada, eu lia as aventuras de Yoyo Soyer e el Dibujador de Armas.” (cont. aqui)
O choro de Kafka ou A queda de Kafka ou A cidade soterrada de Kafka ou Kafka, sobretudo – Dheyne de Souza
“Parece às vezes, são muitas, na verdade, que é um trânsito o que se engarrafa no meu suor, transpiro ruídos e eles vêm dessa cidade astuta, e saltam pelos meus poros prédios, estacas de um silêncio arrepio quando nem frio é ainda.” (cont. aqui)
Otília Kafta - Erwin Maack
“Eu fui registrado no Brasil por um sefaradi, um… um árabe, ninguém me tira isso da cabeça. Isso foi vingança. Inveja. Nosso nome foi transformado em ‘escroquete’ de carne: Kafta. Um bolinho libanês.” (cont. aqui)
A maçã de Kafka – Gerusa Leal
“Pela primeira vez naquela manhã sentiu-se bem e confiante. Possuía, em um barril no canto do quarto, um estoque razoável. Poderia perfeitamente passar alguns dias se alimentando de maçãs.” (cont. aqui)
E por falar em Kafka… – Lúcia Bettencourt
“Essa contemplação não teria sido importante se ele, imóvel na paisagem imóvel, não tivesse escutado um ruído sem esperança, e por causa desse ruído ele não tivesse virado a cabeça e, finalmente, visto a barata moribunda que tentava se defender das hordas de formigas que se preparavam para carregá-la dali.” (cont. aqui)
Uma Carta Para Kafka – Maurício Melo Júnior
“Nasci em Munique, no ano de 1914, há 64 anos. Fiz ali minha primeira parada. Não reconheci a cidade onde vivi por 19 anos. Nem mesmo o país por onde vaguei.” (cont. aqui)
Edifício Kafka – Suzana Fuentes
“As passagens estão cada vez mais raras. Ah, mas como são belas as passagens. E de repente aquela grade ali, apartando os moradores, separando Antonia de João no Edifício Kafka.” (cont. aqui)

Do convidado

Alexandre Alexandrino – Eduardo Sinkevisque
“Quando acendia, ninguém o via. Quando apagava, ele ali não estava. Ainda ficou gritando estou aqui, mas não te vejo. O beijo ali tão perto: margaridas nos lábios que o batom desfazia muros e milênios.” (cont. aqui)

[Imagem:Entrance Door of Kafka's uncle -
Journeys of Franz Kafka;
 http://www.franzkafka.info/main.html]


http://historiaspossiveis.wordpress.com/

domingo, 28 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

LANÇAMENTO

http://www.interpoetica.com/site/index.php?/especiais/A-palavra-ofertada-na-pele.html

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Diversos Afins

QUINQUAGÉSIMA LEVA




Foto: Antonio Paim







CICERONEANDO



Completar ciclos é parte inerente de qualquer jornada pela vida afora. Vencem-se etapas e expectativas são redesenhadas ao longo do tempo. Frequentemente a sensação é a de olhar tudo como se fosse a primeira vez. Quando do seu nascedouro, um projeto jamais é capaz de precisar com exatidão tudo aquilo que irá materializar de fato. Esse algo se torna vivo e vai moldando-se mediante os desafios que se apresentam por entre os dias. Assim tem sido com a Diversos Afins ao longo de sua sucessão temporal. Atingir 50 edições é muito mais do que apegar-se à matemática dos volumes produzidos. Por aqui, tudo sempre fez parte do resultado de um esforço que visa exaltar o humano em suas variadas nuances. Os gêneros que movem a cultura são muito mais do que meras simbologias estilísticas, ou seja, representam a necessidade que temos de expor as epifanias face ao que julgamos abarcar a nossa tenra existência. A redenção pela arte opera num plano notadamente íntimo e pessoal e, mesmo assim, somos capazes de trazer à baila efeitos coletivos de tal experiência. Todas as Levas aqui produzidas são especiais pela gama de expressões mostradas. A grande aldeia global contida na internet opera no surpreendente nível de uma compressão espaço-tempo e tem possibilitado cada vez mais valiosas descobertas. Autores e suas criações podem ser vistos e sentidos sob os mais diversos prismas. E essa condição de visibilidade exige dos criadores um frequente exercício de renovação do olhar, além, é claro, de uma adequada dose de autocrítica. Talvez o maior dos desafios para se continuar os caminhos seja o de alcançar, em boa medida, maturidade. Hoje, 50 Levas representam um complexo de vivências ligadas essencialmente a pesquisas, leituras, observações e, sobretudo, escutas do outro e para o outro. Some-se a isso uma verdadeira paixão pelo discurso impregnado de vida que ronda as obras de escritores e outros tantos artistas. Agora, damos sequência aos nossos passos perscrutando o lirismo de poetas como Maria da Conceição Paranhos, Paulo Tavares, Ana Peluso, Luis Benítez, Iracema Macedo, Rubén Liggera, Sonia Regina, Jorge Elias Neto e Assis de Mello. Através das lentes de Antonio Paim, reservamos atenções a um mundo que passa desavisadamente ante nossos olhos. Numa pequena sabatina, o cantor e compositor Paulinho Moska nos fala sobre seu mais novo disco, demarcando expressões que o posicionam como um artista diferenciado. Os contos de Abilio Pacheco, Gerusa Leal, Alice Fergo e Augusto Cavalcanti refletem signos ativos dos tempos de então. O texto cinéfilo de Larissa Mendes nos convida a vislumbrar muito além do filme O Porco-espinho. No quadro Ouvidos Abertos, as virtudes sonoras de Jabu Morales e Gisele de Santi. Agradecemos aos nossos leitores e colaboradores pelo trilhar de mais uma importante via. Saudações sempre culturais a todos!

http://www.diversos-afins.blogspot.com/ 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mas hoje ainda não




Sempre chove no dia dos mortos
já são três horas da tarde
e hoje ainda não choveu.
O Captain! my Captain! Rise up and hear the bells.
Hear the sound of silence as well.
Sempre chove no dia dos mortos
mas hoje ainda não choveu.

No limiar do outro mundo
em fila eu vejo os meus
que antes de mim se encantaram.
O Captain! my Captain!
Sempre chove no dia dos mortos
e os olhos dos céus se nublaram
mas hoje ainda não choveu.

E se antes do fim do dia
a chuva me alcançar
não encontrará casa limpa
nem mesa posta também
e nada estará no lugar.

O Captain! my Captain!
que o poema encontre os versos
que dizem de aproveitar
o dia que já se finda.
Pois sempre chove no dia dos mortos
mas hoje não choveu ainda.

Gerusa Leal

domingo, 10 de outubro de 2010

Edição 59 de HISTÓRIAS POSSÍVEIS (temática celebridades)

 (…)
Sou eu, o poeta precário
que fez de Fulana um mito,
nutrindo-me de Petrarca,
Ronsard, Camões e Capim;
Que a sei embebida em leite,
carne, tomate, ginástica,
e lhe colo metafísicas,
enigmas, causas primeiras.
(…)






Edição Temática: Celebridades

André de Leones – Bichos
Dheyne de Souza – O Amuleto
Gerusa Leal – Estela
Lúcia Bettencourt – A Lenda

Do convidado
Marcos Vinícius de Almeida – Cidade de Areia
Dos assinantes
Coelho – Mariana Vieira

[Isla Negra, Chile. House of Pablo Neruda]

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

PSIA parte 1

PSIA parte 2

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Raimundo Carrero e Edney Silvestre, os dois vencedores do Prêmio SP de Literatura

Edição 58 de HISTÓRIAS POSSÍVEIS (especial cinema)

HP 58

julho 19, 2010 por historiaspossiveis
Caros leitores e amigos,
É com imensa felicidade que apresentamos a vocês mais uma edição de nossa revista. Só que, dessa vez, chamamos a atenção das Senhoras e Senhores para esta data. Estamos comemorando hoje o lançamento da primeira antologia Histórias Possíveis. Um ebook KindleBookBr. Disponível em todas as livrarias virtuais. Veja abaixo a divulgação em vídeo feita pela nossa editora.  

 http://www.youtube.com/watch?v=lO3ld7ardqk

Edição temática – cinema

André de Leones – Offret 
Daniela Mendes – Zabriskie
Dheyne de Souza – É esse corpo úmido
Gerusa Leal – Carolina
Leandro Resende – O escuro depois do escuro
Lúcia Bettencourt – Carta para Julieta
Susana Fuentes – Pão e Tulipas


Dos Assinantes
O Lado escuro da Alma – Dani Pacheco

[Imagem: Delicatessen, filme de Jean-Pierre Jeunet (1991)]

terça-feira, 29 de junho de 2010

INTERPOÉTICA - Lançamento de nova plataforma

Abrindo os festejos dos seus 5 anos de vida, o Interpoética convida amigos, colaboradores e o público em geral para o (re)lançamento do site, com novo conteúdo, novo design e muitas novidades.
Link para o Trailer do Lançamento do Documentário PSIA
  
http://www.youtube.com/watch?v=M_DA-m5RqSU

Dia 07/07, às 19h, no Espaço MUDA (Rua Capitão Lima, 280 Sto Amaro - Recife, PE 
3032 1347
http://espacomuda.blogspot.com/

Quem for deve levar um Kg de alimento não perecível para doar aos desabrigados pelas chuvas.

domingo, 6 de junho de 2010

Lançamento da Antologia Poética Geraldino Brasil


PESSOAS E COISAS

Ha coisas tão desprezadas que lembram
         pessoas em abandono.
Assim o tijolo que sobrou da construção,
         o retrato além do número e que ficou
entre estranhos na gaveta
do fotógrafo, a palavra no dicionário, vizinha
da que saiu para o poema.

E mais a palavra sem acolhimento pelo próprio ouvido;
         o poema no canto da mesa, excluído
         do livro a publicar,
e o morto do outro enterro.

Mas há pessoas em tal abandono que lembram
coisas desprezadas, Senhor, que não ouso, expô-las
no poema, receoso de que, descobrindo-se ao sol,
duvidem da Tua Justiça e da Tua Misericórdia.

( no primeiro vídeo ao lado, leitura do poema de Geraldino Brasil

terça-feira, 27 de abril de 2010

Laboratório de Autoria Ascenso Ferreira

O mês de abril marca o início das atividades, em 2010, do Laboratório de Autoria Ascenso Ferreira, do Sesc Santa Rita. São oficinas, palestras e performances que se prolongam até o final do ano.

Clique aqui para acessar todo o cronograma.




domingo, 28 de março de 2010

FOTOS NO BABA DE MOÇO

Fotos no gostosíssimo lançamento do delicioso Baba de Moço de Aymmar Rodriguéz (vulgo Raimundo de Moraes)
Raimundo e eu em frente ao painel referência ao poema eva nos trópicos (do qual reproduz os dois primeiros versos), no interessantíssimo Espaço Muda.

A saideira. Na mesa Marcílio, Cida, Sennor, Lúcia, (eu) Alice e Pedro.
Quem não foi, perdeu.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Itaú Cultural abre inscrições para o edital RUMOS LITERATURA 2010-2011

Abertas as inscrições para o edital RUMOS LITERATURA 2010-2011 do Itaú Cultural




O programa Rumos Literatura 2010-2011, conta com o apoio da Anpoll - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e em Lingüística (http://www.anpoll.org.br/site/).



Inscrições gratuitas: de 3 de março a 31 de julho de 2010.



Público alvo: todas as pessoas interessadas nos temas propostos, independente do nível escolar e atividade profissional.



Em sua quarta edição, o programa Rumos Literatura é dirigido aos interessados em desenvolver textos reflexivos sobre literatura e crítica literária brasileira contemporânea. A novidade desta edição é a possibilidade de estrangeiros se inscreverem. O programa busca colaborar no desenvolvimento de potencialidades ao estimular a formação do interessado em literatura na ampliação de sua rede de relacionamentos intelectuais e profissionais e, posteriormente, lançar e divulgar uma publicação com sua produção autoral.



O programa está dividido em duas categorias:

1. Produção Literária: para projetos de ensaio que tratem de um tema relativo à produção literária brasileira a partir do início dos anos 1980.

2. Crítica Literária: para projetos de ensaio sobre a produção crítica na literatura brasileira realizada a partir do início dos anos 1980.



Importante: o interessado não precisa escrever o ensaio final, apenas o projeto que será desenvolvido em 2011, conforme consta no edital.



. Leia o edital completo, regulamento, prêmios e saiba com se inscrever na página http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2708.

. Dentre os prêmios, os selecionados receberão apoio financeiro mensal e remuneração referente ao licenciamento dos direitos autorais do trabalho concluído e aprovado.

. E-mail tira dúvida: rumosliteratura@itaucultural.org.br



Acompanhe as notícias e comentários sobre o programa Rumos no blog http://rumositaucultural.wordpress.com/.

Contamos com a sua inscrição e boa sorte!

terça-feira, 23 de março de 2010

ENTREVISTA

Aproveitando a onda do lançamento do livro, o INTERPOETICA colocou Aymmar/Raimundo na berlinda para uma entrevista.
Raimundo de Moraes – ou melhor, seu heterônimo Aymmar Rodriguéz – perdeu a virgindade editorial e no próximo 26 de março estará lançando o seu pancadão poético Baba de Moço. Aproveitando a onda do lançamento do livro, colocamos Aymmar/Raimundo na berlinda para uma entrevista. Raimundo indicou por quem queria ser sabatinado. Só fera, minha gente. E, pela perguntas feitas e pelas respostas dadas, a entrevista transformou-se numa verdadeira aula de literatura. Alguns entrevistadores mandaram mais de uma pergunta, e os poetas fizeram questão de responder a todas. E estamos contentes em compartilhar com vocês mais um grande momento do Interpoética.


Feliz retorno, Aymmar.

Os Editores


A conferir no http://www.interpoetica.com/entrevista.htm

sábado, 20 de março de 2010

Baba de Moço

Divulgando lançamento do Baba de Moço de Aymmar Rodriguéz, heterônimo do premiado poeta Raimundo de Moraes.
Mais sobre o Baba, acesse: http://babecomigo.weebly.com/index.html
Vale, demais, conferir.

segunda-feira, 8 de março de 2010

HISTÓRIAS POSSÍVEIS

Vale conferir HISTÓRIAS POSSÍVEIS edição 57
… Quando sentiu a tragédia, voltou a ser ele próprio, sentindo as forças esgotarem-se nos estertores da morte. Novamente é ele o observador, e observa a cena: as peras continuam na fruteira, no mesmo lugar a mesa e a toalha, as flores, a sala, ele e seus olhos. Tudo permanece, como sempre, apenas a mosca está morta e já não faz mais parte do ambiente. E, no entanto, nada mudou. Todo o conflito que viveu, todo o seu angustiante dividir-se, tudo é acabado. O mundo permanece, indiferente à sua morte, à sua queda. O seu pequeno mundo, feito de uma sala, de uma mesa e de uma fruteira cheia de peras, que continuam adormecidas, apodrecendo sua solidão e seu marasmo nas tardes quentes.
Silenciosamente, pé ante pé, como se cumprisse um ritual, ele se levanta e se aproxima da fruteira. Com a ponta dos dedos retira cuidadosamente o inseto, e sem uma sombra de qualquer sentimento no rosto, atira-o na cesta de lixo, seu último reduto.
Eu, pecador, absoluto em meu pecado, todo poderoso construtor dos meus desvarios, confesso-me a mim. E jogado sobre a poltrona, nestas tardes monótonas e quentes, pressinto e antecipo a queda da próxima mosca, e o ranger de dentes das peras, deixadas solitárias na fruteira.

[Willian Blake, do Livro “ O DEVORADOR DE PALAVRAS”. Trad. Desconhecido]

Dos colaboradores

Prezada Senhora Editora, André de Leones
Black is Beautiful, Daniela Mendes
Arrimo, Gerusa Leal
O silêncio dos cães, Leandro Resende
Fragmentos, Lúcia Bettencourt
Dois Senhores, Maurício de Melo

[Imagem: Jacob GREENLAND. Tiniteqilaaq. 2001. A boy does a somersault and lands in a deep pile of snow].

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Mundo Circundante

Postagem especial sobre as mulheres no blog do poeta, crítico literário e ensaísta Luiz Carlos Monteiro. Confira lá, também, UM POEMA DE GERUSA LEAL.


http://omundocircundante.blogspot.com/2010/02/notas-cotidianas-e-literarias-x.html#comment-form

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Um cochilo depois do jantar

Destacando meu texto publicado na Edição de Natal da revista eletrônica Histórias Possíveis (para quem não conseguiu, para chegar aos textos, não só o meu, mas o de cada colaborador, basta clicar no link título do texto, ao lado do nome do colaborador).



Um cochilo depois do jantar

By historiaspossiveis
Gerusa Leal

Quando parava o que estava fazendo, percebia o quanto o apartamento era grande e silencioso àquela hora da tarde. Boa parte da arrumação já estava terminada. Encaixou Autran Dourado entre Augusto dos Anjos e Balzac e imaginou o que pensariam os autores, das improváveis companhias a que a vizinhança os obrigava. Depois ajoelhou no chão e acabou de organizar a prateleira de baixo da última estante. O marido entrava, sentava do lado e começava a pegar um livro, depois outro, depois outro e ao devolvê-los ia trocando as posições. Até que ela, com fingida raiva, atirava nele o exemplar que ainda tivesse nas mãos para fazê-lo parar. Ele saltava, se esquivando, roubava-lhe os que ainda não haviam sido recolocados, ela interrompia a tarefa e ia curtir o companheiro.


E o mundo continuava a girar, independente dela. Queria dançar. Colocou o CD, e ao som de don’t let me be misunderstood deixou que o Santa Esmeralda conduzisse braços, pernas, cabeça, o corpo inteiro em coreografias improvisadas onde só o que importava era se mexer no ritmo da música. A filha e as amigas chegavam, ela congelava a performance, disfarçava, passava a mão por cima de um móvel para conferir se não havia poeira depositada.


Amanhã a poeira voltaria a se depositar, feito todos os dias. Mas não importava. Não a incomodaria mais. O telefone tocou. Desligou o som e foi atender. Era a filha. Para desejar que a noite fosse de paz. A filha sempre teve a arte de conseguir inibi-la quando estava fazendo algo prazeroso. Tinha um sexto sentido para isso. Guardou o CD e acabou de colocar o último livro na prateleira.


Não havia pena, nem raiva. Queria tudo perfeito. Forrou a toalha branca, pôs o prato, o talher, a taça, o arranjo de flores. Viu a agenda aberta sobre a mesa de centro, nenhum compromisso anotado para o dia seguinte. Fechou, colocou a caneta ao lado. Passou na cozinha, conferiu o assado, foi para o chuveiro.


O órgão tocava o oratório de Natal de Bach. Ainda conseguiu lugar, mas nas últimas filas. Não fazia mal. A acústica da igreja era excelente. Mergulhou naquele oceano de sons, vibrações, odor de incenso e de cera derretida em pingos que escorriam feito lágrimas, numa solidão congelada de parafina. Lembrou que não havia trocado o lençol da cama. Deixou para lá. Talvez ninguém passasse da sala mesmo. Pelo menos nas primeiras horas.


Degustava o tender saboreando o contraste do salgado da carne e o agridoce do molho com cereja. O vinho aquecia por dentro. A luz das velas era suave e oscilante. Feito a da televisão no escuro da sala.


Checou mais uma vez a gaveta dos documentos, todos os importantes estavam ali. Não queria dificultar a vida de ninguém. Sentou no sofá e começou a ver o especial, recostada nas almofadas.


A faxineira ligou para a filha da patroa. Não era notícia que ninguém gostasse de dar, principalmente numa manhã de Natal. Mas o que é que ela podia fazer? Pelo menos a patroa já estava no seu melhor vestido, o par de sapatos preferido, bem penteada e maquiada. Ela nunca havia gostado de dar trabalho a ninguém.


Era um bom emprego, ia sentir falta. Da patroa também, é claro.